Ferrovia, o regresso do futuro
A contratualização da concessão do troço inicial da linha de alta velocidade entre o Porto e Oiã foi anunciada e representa a concretização da ligação Lisboa-Porto em 1 hora e 15 minutos, através de um investimento de 1661 milhões de euros e da construção de uma das infraestruturas mais ambiciosas do nosso país. Este projeto, em conjunto com um plano de capacitação dos portos portugueses, no valor de 4000 milhões de investimento via PPP, que incluirá 15 concessões e a criação de novos terminais de contentores em Leixões, Setúbal, Aveiro e Sines, marca um momento de viragem na mobilidade nacional.
Surge assim uma aposta numa rede logística moderna e interligada pela ferrovia. Dois anos após a publicação nesta mesma plataforma digital do meu artigo de opinião Ferrovia, precisa-se, questiona-se: estará Portugal finalmente a dar passos concretos para enfrentar o défice histórico de investimento ferroviário e, através deste investimento, reequilibrar o país através de infraestruturas que promovam a coesão, a eficiência e a sustentabilidade?
Vivemos num país marcado por assimetrias territoriais, dependência energética e vulnerabilidades logísticas, tornando a ferrovia numa resposta estrutural a desafios históricos, presentes e futuros. Por esse motivo, depois de décadas de desinvestimento e hesitação política, perante as medidas anunciadas, regressar a este tema não é repetir o mesmo discurso: é aprofundá-lo, ligando o passado ao que ainda pode ser feito. Escrever um segundo artigo sobre esta temática é, por isso, insistir na importância de não deixar o debate sair de linha.
Durante a passagem entre o fim do século XIX e o início do século XX, a ferrovia teve o seu apogeu em Portugal. O seu início ocorreu no ano de 1851 e, até ao final do século, os principais eixos de caminhos de ferro já tinham sido assentes. Este investimento resultou de uma visão unificadora e progressista do país. As classes política e técnica procuravam retirar Portugal, até então assolado por conflitos, da periferia europeia: Uma Regeneração. O Estado, apesar do investimento ter sido liderado por privados, através de companhias, desenhou através da........
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