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O lítio português: Entre soberania, ecologia e indústria

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06.07.2025

Portugal encontra-se hoje diante de uma das decisões mais determinantes para o seu futuro económico, ambiental e geopolítico: limitar-se a extrair e exportar minério bruto ou assumir um papel ativo e estratégico na cadeia de valor do lítio, posicionando-se como um dos líderes europeus nesta matéria. A pergunta que se impõe é direta e provocatória: queremos continuar a ser meros fornecedores de matéria-prima ou desejamos liderar a revolução industrial verde do século XXI?

O lítio tornou-se o novo petróleo, não pelo seu valor bruto, mas pela centralidade que assume na reorganização das economias industriais, no desenho das novas cadeias logísticas e, sobretudo, na corrida global pela descarbonização. Sem lítio não há baterias, sem baterias não há mobilidade elétrica, e sem mobilidade elétrica a neutralidade carbónica da Europa até 2050 será um ideal inalcançável. Esta realidade adquire ainda maior urgência num contexto marcado pela guerra na Ucrânia e pela crescente tensão entre os EUA e a China, que expuseram de forma crua a vulnerabilidade europeia no acesso a matérias-primas críticas. Atualmente, 78% do lítio refinado consumido pela União Europeia é importado da China, e mais de 60% das baterias completas vêm da Ásia, o que gera uma nova dependência que poderá ser tão estrutural quanto foi a do gás russo.

Em resposta, a Comissão Europeia aprovou, em 2023, o Critical Raw Materials Act, um instrumento legislativo ambicioso que estabelece metas concretas para garantir autonomia estratégica: pelo menos 10% da extração, 40% da refinação e 15% da reciclagem de matérias-primas críticas devem ocorrer dentro das fronteiras da UE até 2030. Esta meta não é meramente quantitativa, ela é, antes de mais, um imperativo político,........

© Observador