Ensaio sobre a cegueira: a demo-cracia Portuguesa
Se quiséssemos nomear a atual realidade parlamentar portuguesa com a franqueza que ela merece, talvez “A Assembleia da Libertinagem” fosse um título apropriado. À primeira vista, poderia sugerir um filme para adultos de baixo orçamento e, de certa forma, não andaríamos muito longe da verdade. A Assembleia da República, que em tempos ousámos chamar “a casa do povo”, tornou-se palco de uma narrativa repetida, pobre e carnal, onde a política se reduz a gestos mecânicos, egoístas e vazios de substância. Um guião repetido, sem subtileza nem elevação, onde o que conta não é o bem comum, mas o espetáculo ordinário de pequenos poderes em disputa.
O teatro parlamentar como pornografia política
À semelhança da indústria pornográfica mais básica, os enredos parlamentares são previsíveis, primários, centrados unicamente no ato em si — neste caso, o ato político cru e despido de ética — ignorando completamente os detalhes mais importantes: a construção da relação com o eleitorado, o respeito pela diferença, a nobreza da negociação, a elevação do discurso, a inteligência do compromisso. Em vez disso, assiste-se, sessão após sessão, a um desfile de maus atores que, há décadas, se habituaram ao palco como se fosse pertença sua, como se ali estivessem para representar apenas a sua sobrevivência política, e não os interesses profundos do país que juraram servir.
As recentes eleições........
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