Audismo vs Surdismo: O Direito de Ouvir
A comunicação é uma das bases fundamentais da existência humana. Desde os primeiros momentos de vida, o som faz parte do nosso desenvolvimento, permitindo-nos interagir, expressar emoções e compreender o mundo à nossa volta. No entanto, quando a audição é comprometida, a forma como nos comunicamos e nos integramos na sociedade pode tornar-se um desafio.
A minha experiência pessoal é um exemplo disso. Perdendo progressivamente a audição desde a adolescência, devido a uma condição genética – otosclerose –, fui confrontado com a realidade de um mundo que muitas vezes encara a deficiência auditiva como um fator de separação entre dois grupos distintos: aqueles que ouvem e aqueles que não ouvem. Com o tempo, tornei-me utilizador de um implante coclear e de uma prótese auditiva potente, tecnologias que me permitiram manter o contacto com os sons que sempre fizeram parte da minha vida.
Diante desta experiência, quero refletir sobre um debate que tem vindo a ganhar força nos últimos anos: a dicotomia entre audismo e surdismo. Este conflito não se resume apenas à forma como a sociedade encara as pessoas surdas, mas também à forma como estas próprias pessoas se percecionam e definem a sua identidade.
O que é o Audismo e o Surdismo?
O termo audismo refere-se à discriminação contra pessoas surdas em função da sua incapacidade de ouvir e falar oralmente. Implica a valorização da audição como a norma e a desvalorização da Língua Gestual como meio de comunicação legítimo. Muitas comunidades surdas defendem que o audismo está enraizado na sociedade e que os surdos são frequentemente marginalizados por não se enquadrarem no modelo predominante de comunicação.
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Por outro lado, o surdismo é uma visão que coloca a surdez não como uma deficiência, mas como uma identidade cultural e linguística. Para muitas pessoas surdas que usam a Língua Gestual Portuguesa (LGP), a surdez não é algo que precisa de ser corrigido, mas sim algo a ser valorizado. Algumas dessas pessoas são críticas da reabilitação auditiva, considerando-a uma tentativa de assimilação a uma sociedade que privilegia a oralidade.
O grande dilema entre estas perspetivas é a forma como cada........
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