Moral, cinismo e luxo: lições de White Lotus
Recentemente vi a série White Lotus, da HBO, até à segunda temporada. Confesso que a terceira já me parecia mais do mesmo – um novo resort de luxo com os hóspedes de uma classe social alta e um crime pelo meio. É preciso dizê-lo: a série é por vezes obscena para os mais sensíveis. Mas, curiosamente, é também profundamente moral. Vivemos tempos em que parece haver uma certa necessidade de obscenidade na ficção para se ser visto como diferente ou inovador (sim, o sexo vende muito). Há cenas mesmo desnecessárias, é verdade, mas ainda se consegue extrair algo da série — para além do suspense que, admito, nos agarra.
O que me chamou a atenção não foi a sátira aos ricos. Ainda que por vezes caricatural, é eficaz — até porque há pessoas assim. Mas o que achei mais interessante foi que, numa série em que tudo é opulência e exagero, a crítica mordaz às contradições desta geração (e também das anteriores) – e não exclusiva de ricos – ocupa um lugar central.
O retrato social que nos é apresentado mostra uma geração atual mimada pelos pais e profundamente ideológica. Estão à vontade com tudo o que é perversão sexual, são cínicos e entediados, sustentáveis e anticapitalistas — mas gostam muito de viver com os recursos e oportunidades que os pais lhes garantem. Já a geração dos pais também não escapa à crítica: muito trabalhadora e realista, sim, mas ao mesmo tempo decadente, desencantada, egocêntrica e, por vezes, hipócrita. Há várias cenas deliciosas em que este confronto acontece de forma directa.
A personagem de Nicole Mossbacher, interpretada com precisão por Connie Britton, representa o paradigma da mulher que,........
© Observador
