As imobiliárias e a inflação dos preços da habitação
Ano após ano, nos debates sobre a crise da habitação em Portugal, ouvimos os mesmos argumentos e justificações para o aumento do preço dos imóveis: diminuição da oferta (agora agravada pelo crescimento do alojamento local); aumento da procura (também agravada pelas imigrações, sobretudo nas grandes áreas metropolitanas); a burocracia urbanística e o custo dos licenciamentos aleados à elevada carga fiscal sobre a construção, a inflação dos custos de construção, a distorção do mercado pelo investimento estrangeiro, outros mais. Mas raramente se discute um dos factores mais directos e evidentes: o modelo de negócio das imobiliárias.
A maioria das imobiliárias cobra aos proprietários dos imóveis uma percentagem fixa sobre o valor da venda – habitualmente entre 3% e 6% IVA. Se um determinado imóvel for vendido por 200.000€ e a imobiliária aplicar uma taxa de 5% sobre o valor da transação, obterá 10.000€ de comissão. Porém, se o mesmo imóvel for vendido por 400.000€, a comissão duplicará, passando a ser de 20.000€.
Ou seja, quanto mais caro for o imóvel, maior será o lucro absoluto da imobiliária. Este modelo cria um incentivo perverso para inflacionar o valor de mercado, uma vez que o ganho económico directo da imobiliária é tanto maior quanto mais elevado for o valor de venda do imóvel. Apesar de o esforço para vender um imóvel barato poder ser inferior ao de um imóvel caro, o lucro do caro é muito superior, mesmo que demore mais tempo a vender. Mas isso pouco importa porque, face ao desequilíbrio entre a oferta e a procura e à inflação do valor dos imóveis, ele acabará por ser vendido. É uma questão de tempo.
E se as imobiliárias cobrassem um preço fixo pelo serviço?
Se as imobiliárias cobrassem pelo serviço........
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