Ciberespaço, infraestruturas e guerras híbridas
O apagão que ocorreu no dia 28 de abril é um bom pretexto para esta pequena reflexão sobre infraestruturas críticas e guerras híbridas. Adianto que, no dia em que escrevo, não são ainda conhecidas as causas exatas deste acontecimento.
Estamos em 2025 e este é o triângulo que marcará, doravante, a nossa vida quotidiana, individual e coletiva. Em primeiro lugar, o ciberespaço, isto é, a rede de satélites, estações e antenas por onde circulam os fluxos eletromagnéticos. Em segundo lugar, a rede de cibersegurança, isto é, as redes de comunicação, sistemas de informação e serviços de inteligência e vigilância. Por último, o espaço cibernético, comandado à distância por máquinas e assistentes inteligentes e pela inteligência artificial como o terreno privilegiado das novas guerras híbridas. Neste contexto, todas as nossas infraestruturas críticas – serviços de energia, água e comunicações, serviços médicos e farmacêuticos, serviços de polícia e segurança, serviços de investigação, serviços de abastecimento – estão sob ameaça permanente, uma vez que o risco global, os grandes riscos tecno-digitais, cada vez mais sistémicos e aleatórios, serão uma ameaça constante a pairar sobre as nossas cabeças.
No plano geopolítico, a última década, 2014-2024, marcou definitivamente a política europeia. Tudo começou com a invasão da Crimeia pela Rússia, depois o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (o Brêxit), a primeira eleição de Donald Trump, a reeleição de Xi Jiping a pandemia da covid-19, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a guerra no Médio Oriente, o colapso das instituições multilaterais das Nações Unidas, a reeleição de Donald Trump, as guerras tarifárias e o realinhamento geopolítico e geoeconómico de muitos países. Está em causa a política de defesa e segurança coletiva da União Europeia e da Europa.
Por outro lado, o número crescente de episódios de guerra informática e cibernética é um custo de contexto muito elevado para a globalização das cadeias de valor. Basta olhar à nossa volta e perceber que, em contexto de delimitação de áreas de poder e influência, as guerras, as sanções e as retaliações são um excelente pretexto para estas guerras híbridas, ou seja, estes riscos globais, sistémicos e aleatórios, muitos deles em trânsito e processo de redefinição, irão determinar, cada vez mais, a nova geografia das cadeias de valor e tanto mais quanto, como........
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