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Ensino Profissional: o Plano A que faz falta

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Acabou mais um ano letivo e, com ele, milhares de jovens em Portugal enfrentaram decisões cruciais sobre o seu futuro. Para muitos, tratou-se de escolher entre cursos científico-humanísticos e o ensino profissional. Para outros, a candidatura ao ensino superior. Em comum, uma inquietação legítima: “Estarei a fazer uma boa escolha?”

Os dados indicam que o prémio salarial associado ao ensino superior entre os jovens tem vindo a diminuir nas últimas décadas (Fundação José Neves, FJN 2024, 2023 e 2022). Ao mesmo tempo, os cursos pós‑secundários não superiores, em particular os CTeSP (Curso Técnico Superior Profissional), valorizaram-se no mercado de trabalho. Existem boas opções profissionais fora do modelo universitário, o que o torna menos determinante do que já foi no passado. Acresce que, atualmente, é difícil encontrar um eletricista disponível ou um soldador qualificado. Os preços praticados em muitas áreas profissionais subiram. Seria expectável que os cursos profissionais fossem bastante apetecíveis e procurados.

Contudo, o ensino profissional continua a ser frequentemente encarado como uma escolha de segunda linha. Apesar dos avanços recentes, nomeadamente em empregabilidade e no seu reconhecimento formal, esta via de ensino ainda transporta o peso simbólico de um preconceito persistente (Fundação Francisco Manuel dos Santos, FFMS, 2025). De acordo com o PISA 2022, os alunos do Ensino Profissional não só apresentam as maiores quebras no desempenho nos três domínios em avaliação como têm o estatuto socioeconómico mais baixo (FJN, 2024).

Este estigma não nasceu agora nem por acaso. Está enraizado numa herança cultural e profundamente elitista, em que o “senhor doutor” — advogado, engenheiro, médico ou professor universitário — representava o ideal de prestígio e de sucesso. O ensino superior foi durante décadas o único caminho legitimado socialmente para a mobilidade ascendente, ao passo que os cursos técnicos, quando existentes, eram vistos como respostas para alunos sem “jeito para estudar”.

A pressão familiar e social para optar pelo percurso científico-humanístico, mesmo quando desadequado ao perfil e às motivações do aluno, continua a ser um fator decisivo na escolha. Este preconceito é frequentemente agravado pela forma como os cursos profissionais são enquadrados nos processos de orientação vocacional, sendo muitas vezes tratados como um plano B, em vez de reconhecidos como uma via de excelência técnica.

Apesar dos cursos profissionais demonstrarem resultados positivos, a mudança simbólica é lenta. Os factos mudaram. O discurso social, nem tanto. Porquê? Porque existem dois problemas: o elitismo e a ausência de padrões.

Muitos jovens afastam-se do ensino profissional não só pelo estigma social, mas também pela perceção de menor exigência e densidade académica. Embora existam boas escolas, o sistema ainda não assegura, de forma consistente, elevados padrões de qualidade, mantendo-se desigualdades significativas na formação oferecida.

A avaliação das escolas pode contribuir para a diminuição da exigência. Indicadores como as taxas de conclusão, abandono e retenção, utilizados para aferir o desempenho institucional,........

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