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Um optimista no jardim

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14.03.2024

O que era grave, Cândido, era se ninguém tivesse ido votar. Se as pessoas se tivessem fartado de eleições de dois em dois anos e de governos incapazes de cumprir mandatos. Isso é que era grave. Se a abstenção continuasse a crescer, o descrédito das pessoas nas instituições a aumentar. Se, apesar de todas as queixas, os resultados tivessem sido mais ou menos os mesmos de sempre, tirando a pouca vontade aos poucos que ainda lá fossem de o voltar a fazer. O que era grave era se tudo fosse permitido aos mesmos partidos de sempre e os eleitores não os castigassem por isso. Se concluíssemos, agora com certeza absoluta, que bastava ir aumentando os pensionistas para ter na mão o segredo para a hegemonia eterna. O que era grave era se a sociedade já não fosse capaz de gerar novos partidos, ou que já não acreditasse em partidos. O que era grave era se já tivéssemos todos emigrado, física ou mentalmente, para longe daqui.

É preciso reconhecer, Cândido, que continuamos a viver no melhor dos mundos possíveis. Onde, após quase meio século de democracia, se bate o recorde do número de votantes, a abstenção desce para valores de há 30 anos, os vencidos aceitam,........

© Observador


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