Este País Não é Para Velhos
Chegados ao fim dos debates legislativos, fica claro que a política nacional ainda não encontrou coragem para falar de um dos temas mais importantes: o envelhecimento da população e tudo o que ele representa para o presente e o futuro do país.
Durante mais de duas horas e meia de confronto entre os oito candidatos com assento parlamentar, discutiu-se de tudo — quem sobe e quem desce impostos, quem constrói mais casas, quem respeita mais o SNS, quem é o mais ético, o mais educado, o mais credível, o mais populista, o menos demagogo. Um desfile de egos e moralismos, onde não faltaram ataques calculados nem defesas coreografadas. Mas sobre a previsível e irreversível mudança estrutural do país — o envelhecimento da população — nem uma palavra. Nenhuma proposta, nenhuma visão, nenhum incómodo. Apenas o silêncio confortável de quem não quer abrir essa caixa de Pandora.
Num país onde mais de 2,5 milhões de pessoas têm mais de 65 anos — e onde as mais recentes projecções indicam que, em 2050, essa faixa etária poderá representar mais de 40% da população — o envelhecimento não pode continuar a ser tratado como uma questão técnica, periférica ou secundária. Trata-se de uma transformação profunda, com impacto directo em todas as áreas da nossa sociedade:
Vivemos hoje aquilo que se pode classificar como uma epidemia silenciosa de solidão. 552 mil idosos vivem sozinhos, e mais de 400 mil estão em risco grave de pobreza. Muitos deixaram de ter com quem falar diariamente, deixaram de sair à rua, deixaram de ser visitados. A solidão, prolongada, não é apenas uma questão emocional — é uma........
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