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Nossa senhora da energia elétrica - carlos paiva

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monday

Actualmente, demonizamos os combustíveis fósseis e idolatramos a electricidade. A poluição, a destruição do planeta, adquiriram protagonismo mediático e a engenharia de manipulação não tardou em tomar as rédeas. Mas os factos, despidos de propaganda, apontam para problemas igualmente graves nas opções eléctricas. Tanto o fabrico como o fim de vida dos dispositivos eléctricos revelam-se tão poluidores, ou mais, que o petróleo nas suas diversas formas.

O homem interessa-se pela electricidade há milénios. Desde que foi domada enquanto recurso útil, há pouco menos de dois séculos, o problema do seu armazenamento nunca foi verdadeiramente ultrapassado. A rede de distribuição eléctrica baseia a sua mecânica de funcionamento num equilíbrio, o mais apurado possível, entre a produção e o consumo. A electricidade que consumimos neste momento está a ser produzida neste momento. Um piparote neste equilíbrio resulta num apagão, como o de há pouco tempo atrás. Depois desse "abre olhos" (fragilidade prevista com muita antecedência pelos especialistas, a que as empresas e políticos fizeram orelhas moucas), a rede está a ser agora reestruturada pela Europa toda de forma a garantir a restrição das zonas afectadas em caso de falha. A única forma de armazenamento de energia eléctrica, as baterias, tem uma autonomia curta, tempo de vida útil também ele curto, descarregam mesmo sem serem utilizadas, demoram a carregar e quando carregadas parcialmente ficam viciadas com facilidade. Podemos observar esta ineficiência no electrodoméstico mais popular da época, o telemóvel. Podemos observar esta ineficiência nos carros eléctricos encostados à berma da estrada ou nas longas e lentas filas para o posto de carregamento. Daí o petróleo teimar em manter-se como a principal opção.

Várias tecnologias de produção de energia "limpa" foram desenvolvidas com a finalidade de alimentar a rede eléctrica. A eólica e a solar são as de maior protagonismo. Ambas obviamente dependentes das condições meteorológicas, não garantem produção contínua fiável no paradigma produção/consumo a tempo real. Outros aspectos destas tecnologias também colocam entraves sérios. O elevado custo de fabrico e instalação dos equipamentos, a manutenção frequente, as largas áreas necessárias para a exploração, o impacto ambiental, a baixa rentabilidade resultante, são problemas relevantes. Há quem seja de opinião de que se deve continuar a investir no desenvolvimento, de modo a atingir um ponto óptimo algures no futuro; há quem defenda que é um desperdício de recursos devendo-se explorar outras soluções.

Ainda nos factos despidos de propaganda, a maior "solar farm" dos Estados Unidos, instalada no deserto de Mojave, na Califórnia, vai ser desactivada em 2026. Os motivos da desistência são precisamente a baixa rentabilidade e o impacto ambiental.

No Canadá, na falta de um deserto, actualmente estimula-se o conceito de "agrivoltaic", que consiste no aproveitamento dos terrenos das "solar farms" para cultivo de espécies vegetais tolerantes à sombra, numa tentativa de rentabilização dos projectos. Os painéis solares, além da sombra, impedem uma dispersão saudável da água da chuva pelos terrenos, a água que escorre cria valas de caudal significativo (ou terão de ser feitas, para garantir escoamento, mantendo a integridade do terreno evitando deslizamentos), condicionando grandemente a fertilidade do solo pela distribuição desequilibrada da humidade. A degradação da biodiversidade nos sítios........

© Jornal Torrejano