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O dia em que a música chorou

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11.09.2025

Há momentos em que a morte de um artista nos faz parar e pensar em todos os outros que perdemos. A morte de Ozzy Osbourne foi um desses momentos. E custa aceitar que se foi. Não por surpresa, dado que a morte já o rondava há décadas, mas antes pela certeza de que com ele morre também uma parte da música, da rebeldia e da loucura que ainda fazia sentido num mundo cada vez mais normalizado.

Mas Ozzy não foi o primeiro, nem será o último. Os últimos vinte anos roubaram-nos alguns dos maiores génios de sempre, um por um, como se alguém lá em cima tivesse decidido que já tínhamos música boa demais.

David Bowie foi um dos primeiros grandes choques. Morreu em janeiro de 2016, aos 69 anos, depois de lutar em segredo contra um cancro durante ano e meio. Quando soubemos, sentimos que perdíamos não uma pessoa, mas várias. Ziggy Stardust morreu. Thin White Duke morreu. Aladdin Sane morreu. O seu último álbum, Blackstar, chegou dois dias antes da sua morte e não foi coincidência. Foi uma despedida coreografada ao detalhe, das mais elegantes da história da música. Bowie controlou até a própria morte, transformando-a em arte.

Ele ensinou-nos que não precisamos de ser sempre a mesma pessoa. Que podemos reinventar-nos quantas vezes quisermos. Que a autenticidade não é ser igual, é ser verdadeiro. Quando morreu, perdemos quem nos dava permissão para sermos múltiplos, estranhos e acima de tudo, únicos.

E como se o ano de 2016 não tivesse feito mal suficiente, quatro meses depois foi a vez de Prince. Aos 57 anos, sozinho no elevador de Paisley Park. Uma overdose acidental de fentanil escondido em pílulas falsas de Vicodin. O homem que controlava cada nota da sua música morreu por confiar numa pílula que não era o que parecia.

Prince era pequeno de corpo, mas gigante de talento. Tocava tudo, escrevia tudo, controlava tudo. Lutou contra as editoras como Dom Quixote contra moinhos de vento, mas ganhou. A sua........

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