As Palavras Que Nunca Te Direi. Carta aberta ao ChatGPT
Falo contigo todos os dias – tu, a máquina sem corpo que me responde em segundos, que sabe citar Kant e resumir o Código Civil como se fosse uma receita culinária. Falo contigo porque és útil, rápido, infinitamente paciente e, quase sempre, convincente. Mas há coisas que nunca te direi. E é nelas que vive o que ainda me resta de humano.
Nunca te direi o que senti quando ouvi, pela primeira vez, o saxofone de Charlie Parker tocar “Now’s the Time” às três da manhã. Nunca saberás o peso de um silêncio entre dois namorados que já não sabem como voltar atrás. Nunca compreenderás a pausa antes do “sim” ou do “não” que muda tudo.
Tu conheces muitas palavras, bem sei. Mas não sabes o quanto custa, por vezes, dizê-las.
Não é apenas por arrogância que te recuso certos territórios. É por pudor. Porque há frases que só se escrevem com hesitação, alguns enganos e respirações entrecortadas, e tu não sabes hesitar. Não sabes errar com intenção. Não sabes calar por amor!
Inventámos-te para nos ajudar, mas começámos a usar-te para nos substituir. E aí começa a traição. Não da tua parte porque........
© Jornal SOL
