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A Síndrome Byron

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22.08.2025

Andy Byron beijou uma mulher num concerto dos Coldplay. Não era a mulher dele e o mundo parou literalmente. Debates globais nas redes sociais, análises sociológicas infinitas, memes que se multiplicaram como vírus. A humanidade inteira teve uma opinião sobre a vida privada de um gajo qualquer que ninguém conhecia. Byron tornou‑se mais famoso que Mandela, mais discutido que Gandhi e até mais viral do que a própria pandemia.

No mesmo fim‑de‑semana em que Byron se tornava uma verdadeira celebridade, o Ministério da Saúde de Gaza confirmava mais de 60 000 palestinianos mortos, incluindo 17 000 crianças. A UNICEF lembrava que mais de dois milhões de pessoas, quase toda a população da Faixa de Gaza, estão deslocadas e sem acesso regular a água potável. O Sudão, mergulhado numa guerra civil esquecida, soma pelo menos 150 000 mortos. E há trinta anos, em apenas cem dias, cerca de 800 000 tutsis e hutus moderados foram abatidos no Ruanda enquanto as televisões ocidentais preferiam acompanhar em direto a fuga de O. J. Simpson num Bronco branco.

Hoje, como ontem, não é falta de notícias, é excesso de distração. Byron é o O. J. Simpson e Gaza é o Ruanda. E nós? Nós somos os mesmos imbecis, só que com smartphones. O caso Byron teve direito a manchetes em dezenas de países, análises psicológicas de influencers que mal sabem escrever e até remixes musicais no TikTok. Mas, no mesmo fim de semana, crianças morriam de sede, sem direito a palco, talvez porque lhes faltava a produção audiovisual adequada. Faltava‑lhes o enquadramento musical dos Coldplay.

Esta indignação seletiva não começou........

© Jornal SOL