A Inteligência Artificial Comeu o Meu Queijo
Em 1998, Spencer Johnson publicou “Quem Mexeu no Meu Queijo?”, uma fábula sobre como lidamos com a mudança. Quatro personagens vivem num labirinto: dois ratinhos, Sniff e Scurry, e dois homenzinhos, Hem e Haw que todos os dias se dirigem ao Posto C, onde encontram o seu queijo, uma metáfora para aquilo que desejam na vida: estabilidade, sucesso e segurança.
Um dia, porém, o queijo desaparece. Sniff, que já pressentia sinais de mudança, e Scurry, sempre pronto a agir, partem em busca de um novo posto. Hem recusa-se a aceitar a perda, sente-se injustiçado, zangado, e espera que tudo volte ao normal. Haw, com medo e resistência, hesita… até que percebe que continuar parado não trará de volta o que já foi. E é então que se aventura sozinho pelo labirinto, enfrentando os seus receios e consegue chegar ao Posto N, onde encontra um novo queijo e descobre que Sniff e Scurry já lá estavam há algum tempo.
Vinte e sete anos depois, esta metáfora permanece actual dado que o queijo que damos por garantido nas nossas vidas não está apenas a desaparecer, está a ser transformado, desmaterializado e redimensionado pela inteligência artificial. Só que desta vez a IA foi mais longe do que as disrupções anteriores, não se limitando a mudar apenas o local do queijo, mas redesenhando o próprio labirinto e as regras do jogo enquanto este ainda se encontra a decorrer.
De facto, a IA está a alterar estruturas inteiras: reconfigura profissões, desvaloriza linguagens técnicas especializadas, automatiza decisões complexas e questiona competências que, até ontem, pareciam exclusivamente humanas. Para muitos, isto é profundamente desconcertante. Quando ouvimos “a minha profissão exige sensibilidade humana” ou “uma máquina nunca fará o que eu faço”, ouvimos ecos claros de Hem, no........
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