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A Europa e o caldeirão perdido. As Lições de Astérix para um continente em crise

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09.04.2025

Cresci a ler as aventuras de Astérix, o pequeno guerreiro gaulês que, junto ao inseparável Obélix e à poção mágica do druida Panoramix, enfrentava os romanos com coragem e astúcia. Recentemente, ao reler “Astérix e o Caldeirão”, dei por mim a refletir sobre como esta narrativa espelha perfeitamente os dilemas atuais da União Europeia. A história do caldeirão roubado, símbolo da segurança e prosperidade, ressoa como uma metáfora perfeita para uma Europa que parece ter perdido algo essencial num turbilhão de crises sucessivas.

A nossa “aldeia europeia” encontra-se sitiada, não por legiões romanas, mas por forças igualmente implacáveis: o ‘romano americano’ e o ‘império oriental chinês’ disputam a supremacia global, enquanto o ‘bárbaro russo’ avança com intenções expansionistas. Como os gauleses, encontramo-nos divididos entre interesses nacionais e a necessidade premente de unidade mas a questão que nos persegue é simples e devastadora: onde está o nosso caldeirão de sestércios — a nossa segurança económica e identitária — e como recuperá-lo?

Percorrer o mapa desta aldeia europeia ampliada é reconhecer personagens familiares que ganham vida nova nos palcos do poder contemporâneo. Ao centro, como não poderia deixar de ser, a França assume o papel de Astérix com Macron a encarnar o herói que brande o escudo da “autonomia estratégica” nos fóruns internacionais, enquanto, nos bastidores do G7, flerta abertamente com os romanos.

À sua sombra, a Alemanha carrega o peso de ser Obélix, o gigante que sustenta a economia europeia nas costas largas, mas tropeça constantemente nos seus próprios dilemas éticos. O seu apetite insaciável por javalis (leia-se: gás russo e produtos made in China) é tão óbvio quanto a sua relutância em admiti-lo.

Mais ao sul, como num mapa desenhado por Uderzo, a Itália emerge como uma perfeita encarnação........

© Jornal SOL