O suicídio de Montenegro
Não tenhamos dúvidas de que a diferença ideológica que vai do PS ao PCP e ao Bloco de Esquerda é significativamente maior da que vai do PSD ao Chega.
Tal constatação não impediu que os socialistas se tivessem aliado aos comunistas e aos bloquistas para que Costa se pudesse ter assumido como primeiro-ministro e, graças a essa improvável aliança, tivesse governado uma legislatura inteira sem sobressaltos dentro da área política de que se socorreu.
Mas Montenegro, quando chegou a sua vez de se mudar com armas e bagagens para S. Bento, logo descartou qualquer tipo de entendimento com o espaço à sua direita, empurrando, dessa forma, o Chega para a oposição e, consequentemente, levando-o a estabelecer acordos cirúrgicos com a esquerda parlamentar.
O “não é não” de Montenegro resultou em que não foi possível levar-se a cabo as reformas necessárias de que Portugal bem precisa para o afastar da cauda da Europa, desaproveitando-se uma maioria parlamentar confortável do espectro político sensível a essa profunda transformação social, económica e financeira que tarda em ser implementada.
Esta é a bitola que separa a esquerda da chamada direita parlamentar portuguesa: enquanto que aquela se une nos momentos críticos, esta teima em se manter dividida, mesmo quando a situação deplorável do País implora por um entendimento que se sobreponha às naturais divergências que dividem os partidos que se movem naquela área político.
A teimosia e a intransigência da AD em procurar cooperar com o Chega, mesmo que essa estratégia não implicasse a participação daquele partido no arco da governação, levou a que Ventura, usando a máxima de que a vingança se serve fria, soubesse aproveitar a primeira oportunidade com que se deparou para ditar o derrube do governo chefiado por Montenegro, valendo-se de uma infantilidade do ainda primeiro-ministro que, após sobreviver a duas moções de censura, achou por bem sujeitar-se a um voto de confiança do parlamento, sabendo, à partida, que........
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