A Candidatura do COVID-19: Quando a República Uniformiza e Vigia
Num país onde se confundem frequentemente os ecos da Revolução Francesa com a razão política, não admira que um almirante se apresente à Presidência com o espírito de um intendente bonapartista. Henrique Gouveia e Melo, com o seu ar de tecnocrata incorruptível e pragmático, propõe-se garantir a estabilidade da Nação, entenda-se, a estabilidade do edifício jacobino que sufoca as franjas vivas da pluralidade histórica portuguesa.
Não há ironia mais perfeita do que ouvir um militar da Marinha, braço longínquo do Império, negar relevância à Autonomia Madeirense ao afirmar que o cargo de representante da República “não é um problema”. A Madeira, que se revoltou contra o Estado Novo antes que Lisboa sequer despertasse, vê-se reduzida, mais uma vez, à condição de praça vigiada na boca de um político, que defende a existência de um representante nomeado por Belém a pairar sobre a vontade do povo Madeirenses e Porto-santense como um comissário civilizado.
O almirante, na sua cortesia simplificadora, julga que o cargo em causa não cria problemas. Mas a questão não é se o cargo “cria problemas”, é se ele representa uma ideia de Portugal. E........
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