O cama 11
O senhor Alberto Silva tinha setenta e dois anos quando foi de novo internado no hospital. Engenheiro Civil de profissão, tinha uma doença crónica que o levava frequentemente a um internamento hospitalar. Mas, nas suas múltiplas estadias anteriores, nunca tinha passado por situações como a que estava agora a viver naquela enfermaria. Quando desta vez foi internado ninguém lhe perguntou o nome nem como gostaria de ser tratado. Apercebeu-se bem cedo que deixou rapidamente de ser o Eng. Alberto Silva ou mesmo o senhor Silva para se tornar simplesmente no cama 11. Era assim que os enfermeiros se referiam a ele quando passavam no corredor – já vieram as análises do cama 11?
Era esse o número que constava na cabeceira da sua cama, e era assim que ouvia o “seu nome” ser murmurado durante as mudanças de turno. A sua existência havia pois sido reduzida a um número de cama, a sua identidade humana arquivada algures nos formulários burocráticos do hospital.
Aquela enfermaria era um microcosmo de doenças e de sofrimento onde a dignidade parecia ter sido esquecida à porta. E........
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