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Quem mais trai a democracia?

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16.07.2025

Falamos muito de democracia por tudo e por nada. O debate político parece definir-se entre os que se proclamam democratas e os que eles designam como anti-democratas, os que colocariam a democracia em perigo. Intitulamo-nos democratas e acusamos os outros de não o serem, o que os desqualifica de imediato: nas suas opiniões, nos seus comportamentos ou decisões. Falta, porém, o essencial. Acusar os adversários de anti-democratas serve muitas vezes de espantalho para escamotear o fundamental, que é o questionamento da qualidade da democracia atual e, mais ainda, do seu verdadeiro sentido.

Importa recordar o que é distintivo na democracia para além da retórica e dos dogmas repetidos por uma espécie de proprietários autoproclamados da sua definição. A democracia só existe quando estamos perante o governo do povo, para o povo e pelo povo. Ou seja, assenta numa ideia de igualdade radical na participação política. Qual é, então, a qualidade da nossa democracia à luz deste critério? Débil. Muito débil. Dificilmente vivemos em democracia. Ou, na melhor das hipóteses, vivemos numa democracia de segunda ou terceira categoria.

Num sistema verdadeiramente democrático, a igualdade radical pressupõe que todos podem governar. Os que não têm poder devem, em princípio, ter tanto poder como os que o detêm, seja ele económico, social, estatutário ou intelectual. A ideia de que qualquer um pode governar coloca o conceito de igualdade num outro patamar: pressupõe a capacitação de qualquer cidadão para exercer um cargo político, para ser político, mesmo de modo oficial. A criação dos partidos e o modo como estes validam o que pode ser dito e onde pode ser dito, bem como as consequências de tomar a palavra, são inimigos dessa igualdade radical necessária para uma democracia plena. Esta igualdade não é uma utopia. Remete para um patamar elevado de exigência: a importância igual de cada ser humano. E essa importância implica que todos tenham a possibilidade de aprender, exercitar e desenvolver a capacidade crítica, a educação, a consciência ética e o conhecimento suficiente para, num determinado momento, assumir o seu lugar na pólis.

A representação política através de partidos e a figura do político........

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