O fracasso das democracias liberais
Em setembro de 2025, a Organização para a Cooperação de Xangai, reunindo China, Rússia, Índia, Turquia e Irão, proclamou, pela voz do líder chinês, a necessidade de um sistema global “mais justo e razoável”, um modelo de “verdadeiro multilateralismo” e a urgência de “tomar uma posição clara contra a hegemonia e as políticas de poder”. A mensagem foi inequívoca: um mundo pós-ocidental está a ser desenhado.
Para compreender como chegámos aqui, é necessário recuar às décadas que se seguiram ao colapso do comunismo. A partir dos anos 80, o Ocidente conheceu uma fase de prosperidade relativa, onde, apesar das falhas, ainda predominava o primado da política sobre os mercados. Contudo, a “religião laica” do progresso, a crença dogmática de que a história segue um caminho irreversível de aperfeiçoamento, sofreu uma mutação decisiva. Com o triunfo proclamado do liberalismo, anunciou-se o “fim da história”. Instalou-se uma hegemonia inédita: a fusão entre liberalismo económico radical e revolução cultural progressista. As elites celebraram, convictas de que o resto do mundo seguiria docilmente o modelo ocidental.
Foi um erro histórico. No século XXI, sobretudo nas últimas décadas, tornou-se evidente que as democracias liberais se fragilizaram por responsabilidade própria, vítimas de uma confiança cega na sua superioridade. Essa visão corroeu os rochedos estruturantes da civilização ocidental, as suas bases morais, culturais e identitárias, ao mesmo tempo que criou condições para o fortalecimento de um bloco alternativo. Apesar das divergências internas, Pequim e........
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