Até que enfim, um verdadeiro ministro da educação
O atual ministro da Educação tem-se distinguido de forma notável numa área particularmente complexa, há muito à deriva, entregue a experimentalismos pedagógicos que vão desde o chamado eduquês até às pedagogias românticas, e marcada pela erosão do valor do ensino, pelo declínio da exigência e por ataques sistemáticos à dignidade dos professores, como os perpetrados pelo Partido Socialista. Numa cultura que tem abdicado do esforço como valor educativo para alunos, políticos, professores e famílias, muitos falharam. Este ministro, com sensatez, serenidade e um sentido claro de prioridades, tem sabido distinguir o essencial do acessório. Num país profundamente desiludido com a política, isso é, por si só, um feito considerável.
Entre os temas mais polémicos da política educativa recente está a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Tal como concebida nos últimos anos, transformou-se num amontoado de tópicos desconexos, abordados muitas vezes de forma superficial e burocrática, cumprida por professores e alunos como mera formalidade curricular.
No entanto, esta disciplina podia e devia desempenhar um papel central: educar para os direitos e deveres, para a pertença consciente a uma comunidade política, para a responsabilidade cívica e para o contributo de cada cidadão para o bem comum. Tudo isto, evidentemente, com respeito pela maturidade dos alunos e adequação às diferentes etapas de desenvolvimento.
Contudo, uma área específica conquistou um protagonismo desproporcionado: a chamada “igualdade de género”, que, na prática, se transformou numa verdadeira ditadura conceptual, supervisionada por ativismos radicalizados. Esse espaço foi ocupado quase exclusivamente por uma corrente ideológica influenciada pelos movimentos LGBT, pelo feminismo radical e pela teoria queer, que se arvorou em autoridade única na matéria.
Recorde-se que os Estudos de Género são, em grande medida, construções ideológicas do extremismo da nova esquerda, nas quais o homem heterossexual é sistematicamente retratado como opressor, numa narrativa totalitária da qual os seres humanos supostamente precisam de se libertar. Estas visões nada têm a ver com os movimentos históricos pelos direitos civis ou com o feminismo liberal e sufragista, que defendiam a igualdade de direitos e dignidade independentemente do sexo, orientação sexual ou cor.
Importa, aliás, reconhecer que nem todas as abordagens às questões de género são radicais ou doutrinárias. Existem correntes legítimas que procuram promover o respeito e a dignidade das pessoas, sem negar a realidade biológica, nem impor uma visão única sobre identidade ou sexualidade. A crítica aqui apresentada dirige-se não à atenção dada a temas relevantes como a igualdade ou a não discriminação, mas à captura ideológica desses temas por correntes que pretendem impor-se como verdade exclusiva, ignorando a complexidade da experiência humana e a pluralidade democrática.
Em muitos contextos, impôs-se uma visão dogmática, em que o........
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