A Direita dividida e a nova batalha pelo bem comum
Ser de direita é assumir uma visão realista da natureza humana: o ser humano é, por natureza, imperfeito, limitado e desigual. Rejeitam-se, por isso, visões utópicas e projetos de transformação negadores da natureza humana, valorizando-se tudo o que enraíza, vincula e transmite pertença, seja na história, na cultura ou nas tradições.
Valoriza-se a ordem, a autoridade legítima e a continuidade institucional. Defendem-se as instituições tradicionais e tudo aquilo que demonstrou ser bom ao longo do tempo. Encara-se com ceticismo qualquer mudança abrupta ou experiência social radical. Prefere-se a evolução gradual às revoluções. O progresso não é uma linha ascensional irreversível: avançamos, mas também podemos regredir. Aquilo que de melhor descobrimos foi conquistado e merece ser preservado, pois é decisivo na história da civilização.
No domínio económico, o livre mercado, a propriedade privada e a livre iniciativa são essenciais, rejeitando-se o estatismo e qualquer forma de controlo centralizado. Ainda assim, reconhece-se que a economia deve estar subordinada à política, e que a ordem internacional deve respeitar a soberania das nações. As pessoas são mais importantes do que os acionistas nas políticas nacionais. Os mercados são instrumentos ao serviço das comunidades, não fins em si mesmos. Valoriza-se o mérito, o esforço individual e o espírito empreendedor, recusando-se o igualitarismo imposto e a maximização do egoísmo.
No plano moral e cultural, privilegia-se o que demonstrou funcionar melhor para a pessoa e para a comunidade ao longo do tempo, bem como o património cultural e axiológico e os seus valores objetivos. Critica-se o relativismo, o niilismo e as ideologias identitárias contemporâneas. Acredita-se na existência de princípios morais universais e perenes, e valoriza-se o legado religioso e civilizacional do Ocidente.
Defende-se a soberania nacional, a identidade cultural e o patriotismo como expressões de pertença e continuidade histórica. Rejeita-se a globalização desregulada e o globalismo tecnocrático, reafirmando-se a defesa da civilização ocidental e dos seus valores fundadores.
Em síntese, a visão de direita parte da realidade concreta do ser humano, não de abstrações utópicas. Valoriza instituições sólidas, a liberdade com responsabilidade, a moral como base da vida comum, e afirma a identidade e a soberania dos povos como pilares da civilização.
Nas últimas décadas, emergiram novas direitas com características distintas. Podemos falar de uma fragmentação interna e, ao mesmo tempo, de uma clarificação entre uma direita moldada pelo consenso liberal e outra, genuína, conservadora, democrática e no presente anti-sistema, que é frequentemente associada ao extremismo como forma de a deslegitimar.
Por um lado, consolidou-se uma direita hiperliberal, marcada pela defesa do mercado livre, pela desregulação económica, pelo cosmopolitismo financeiro e pelo individualismo competitivo. Por outro,........
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