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Salvar os proprietários florestais… e matá-los à fome depois

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30.08.2025

O Presidente da República, ao contrário da sua lamentável intervenção inicial em Pedrógão Grande, em 2017, dizendo – quando se contavam já quase vinte mortos na estrada fatal – que fora feito «tudo o que era possível fazer», parece mais cuidadoso nas declarações públicas que vem produzindo no decorrer dos fogos rurais que atualmente nos fustigam.

Ainda recentemente, cavalgando a satisfação coletiva de não se terem registado (até agora) vítimas humanas no Mundo Rural, explicou que «considera boa opção de salvar pessoas em detrimento da área florestal». Quem poderia dizer o contrário?

Todavia, alguém mais sensato e sabedor talvez fosse levado a pensar que a opção é puramente falaciosa. Imaginemos o concelho de Palmela sujeito a um vendaval de fogos que ameaçam a pousada, bem preenchida por nacionais e turistas, e de igual forma a Autoeuropa, onde as pessoas teriam sido mandadas para casa.

Seria do bom senso o Governo e a Protecção Civil instruir os seus meios de combate para irem defender a pousada e deixar arder a fábrica?

Não se trata de encontrar o mal menor mas de assumir – antes do momento de perigo – que salvar a pousada e a fábrica tinham igual prioridade.

A escolha do exemplo de Palmela e da Autoeuropa não foi inocente: talvez a larga maioria da população portuguesa não saiba que a maior papeleira nacional (e aqui uma necessária declaração de interesses: onde me reformei, em 2013) gera um Valor Acrescentado Nacional bem superior ao da Autoeuropa (primeira empresa exportadora nacional). Enquanto a primeira (terceira maior exportadora nacional) parte de uma pequena planta, produzida em Portugal por milhares de pequenos proprietários, que cresce em terrenos marginais para a agricultura, que é transportada para as unidades industriais por uma enorme frota de camiões e operadores florestais que alimentam milhares de pequenas oficinas, metalomecânicas, postos de combustíveis, etc., a segunda importa a grande maioria das matérias primas de que carece, utiliza know how patenteado estrangeiro, ocupa um número limitado de trabalhadores urbanos e reexporta – e ainda bem – as viaturas com um Valor Acrescentado Nacional bem menor.

Acresce que uma indústria de produtos florestais desta dimensão não é deslocalizável para qualquer paraíso fiscal, enquanto as indústrias de montagem de automóveis são facilmente deslocalizáveis para países que lhes ofereçam incentivos atrativos (é ver os sucessivos incentivos que Portugal tem........

© Jornal SOL