Pós-Páscoa: Reflexões de uma democracia em agonia!
Findo o período pascal – tempo de recolhimento, introspeção e renascimento – o país desperta, não para a esperança, mas para o agravar de um mal-estar profundo, para a instalada e afirmada desconfiança. Vivemos tempos de promessas vãs, lideranças descredibilizadas e uma sociedade cansada, mergulhada numa inquietante apatia democrática. Não andamos longe de um ponto de rutura: um país sem rumo, governado por um sistema que se repete, sem renovar, sem reformar, sem escutar. Ainda antes da campanha eleitoral legislativa começar formalmente, há sinais demasiado evidentes para serem ignorados. Portugal atravessa um momento de inquietante apatia, onde os protagonistas políticos parecem mais ocupados com os seus lugares ou os seus “casos pessoais” do que com o destino coletivo. Há muito que isto vem a acontecer, mas, salvo melhor opinião, nunca como hoje, os partidos políticos estiveram tão encerrados sobre si próprios. Funcionam hoje como estruturas familiares e caciquistas, impermeáveis à crítica e à renovação. A reprodução interna de elites políticas ineficazes, medíocres, tornou-se regra — e o cúmulo encontra-se, ironicamente, no próprio partido do poder, que se apresenta a votos com quase todo o Conselho de Ministros, incluindo nomes marcados por pouca ineficácia governativa. Já não existem reservas nem suplentes no banco! E, aqueles que eventualmente o poderiam ser nem o aquecimento fazem, perante o “exemplo que vem de cima”. Há muito que os partidos deixaram de integrar quadros com provas dadas na sociedade civil. A política institucional afastou-se da cidadania ativa e tornou-se trampolim de carreiras pessoais. A juventude partidária, outrora berço de convicções, é hoje, salvo honrosas exceções, escola de oportunismo. Ainda sou do tempo em que os partidos apresentavam com pompa e circunstância........
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