A mentira na política: epidemia global com eco em Portugal
A mentira política é cada vez menos um descuido e cada vez mais um cálculo deliberado por parte das lideranças políticas, governamentais ou partidárias. A pergunta íntima, colocada em surdina ou em reuniões de assessoria, é sempre esta: “será que ganho mais ao mentir do que perco?”. Este mecanismo favorece frequentemente quem já acumula capital político, minando a confiança democrática. O problema é que hoje a internet, mais ainda do que a comunicação social tradicional, amplifica essas memórias falsas e torna a correção quase impossível. Não é novidade. A política sempre se alimentou de mitos: a célebre história da cerejeira de Washington, onde o pequeno George teria confessado ao pai que cortara a árvore favorita com um machado, é um exemplo clássico de ficção edificante. Narrativas simplistas ou mesmo inventadas foram sempre usadas como instrumentos de legitimação, convertendo líderes em modelos de virtude, independentemente da verdade histórica.
O drama é quando estas mentiras têm consequências muito mais gravosas na vida real e na governação da urbe. Não surpreende, por isso, que surjam vozes defendendo que mentir em política deveria ser crime. A resposta legal, porém, é arriscada: o conceito de “mentira política” é fluido e abriria caminho a abusos, podendo transformar-se numa arma para silenciar o debate democrático. O mais prudente é reforçar a transparência institucional, os mecanismos de........
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