A Indústria Europeia de Defesa – desafios!
A guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia levou a União Europeia, a NATO e os seus Estados-Membros a embarcarem no maior esforço de rearmamento desde a década de 50. Depois de décadas de desinvestimento, o debate voltou a estar ativo e uma das questões principais tem sido a de saber se os europeus devem ou não construir armas em conjunto. O raciocínio a favor é em tudo convincente: a produção conjunta é mais eficiente, mais barata e reforça a Base Tecnológica e Industrial de Defesa Europeia (BTIDE) ao concentrar a procura num conjunto mais reduzido de fornecedores. Contudo, esta perspetiva nem sempre considera que a concorrência também é essencial para manter a inovação, controlar custos e garantir qualidade. Um dos argumentos mais repetidos tem sido o da “fragmentação excessiva”, ou seja, a ideia de que cada país produz demasiados sistemas diferentes, desperdiçando recursos e dificultando a interoperabilidade. Contudo, esta perceção baseia-se, muitas vezes, na contagem de todos os sistemas existentes nas forças armadas europeias, incluindo modelos antigos e até obsoletos, acumulados ao longo de décadas. Se olharmos apenas para os sistemas em produção atualmente, a realidade é bastante diferente. Vejamos alguns exemplos:
Jan Joel Andersson, analista sénior da EUISS (European Union Institute for Security Studies) demonstra-o já em 2023 no seu estudo e resume essa realidade, na imagem abaixo:
Ainda assim, o problema não é tanto o “número excessivo” de fabricantes, mas sim a falta de alinhamento nos requisitos nacionais e a dificuldade em consolidar programas multinacionais sem comprometer os interesses industriais e estratégicos de cada Estado. Nos Estados Unidos, até 2000 existiu uma consolidação massiva da indústria de defesa, passando de dezenas de fabricantes para um número reduzido de grandes grupos. Embora isso tenha criado empresas altamente capazes, também resultou numa dependência excessiva de poucos programas. O caso mais paradigmático é o do F-35 Joint Strike Fighter: concebido para ser uma solução única e económica para várias forças armadas, tornou-se num programa “demasiado grande para falhar”, com custos astronómicos, atrasos e problemas técnicos. A ausência de concorrência reduziu a........
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