Sábia saudade
O Portugal esquecido de si próprio envergonha-se de afirmar que a alma portuguesa se chama Saudade, não a percebe prenhe de futuro. Mas falemos primeiro de Penélope, mulher de Ulisses, herói que na Odisseia regressa a casa após a Guerra de Troia narrada na Ilíada, tudo isto passado ou contado – aqui é o mesmo – quase há trinta séculos! Ulisses, rei de Ítaca, viaja com os seus nautas entre errores, armadilhas e obstáculos durante vinte anos, tempo largo para que seja imposta a Penélope a óbvia viuvez e consequente novo marido frente ao vazio do trono real. A sua lealdade esponsal, confiante e sábia no regresso de Ulisses, dá-lhe astúcia escondida numa proposta para protelar a ambição e a luxúria das dezenas de pretendentes que lhe assolam o palácio: irá tecer um véu de linho findo o qual casará de novo, se Ulisses não voltar; entretanto, às ocultas, em cada noite desfaz o que tece durante o dia no véu sempre inacabado. Ulisses volta vencendo a ‘prova do arco’ e reocupa o trono. A saudade........
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