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Esquerda e Direita, entre a madeira e o tabopan

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24.04.2025

Há dias, num jantar entre antigos colegas de escola, uma amiga de há muito, mulher de esquerda que nunca fora comunista, disse-me, para minha grande surpresa, que nestas eleições decidira votar no PCP. Razões? «É que não podem desaparecer», disse-me. «Fazem parte das nossas vidas; vê-los desaparecer seria perder algo de nós, da nossa infância, do nosso imaginário». Dei por mim a reconhecer que havia algo de verdadeiro no que dizia. Sorri, sem rebater o argumento, e a conversa rumou para outros destinos, entre piadas e copos. Mas pensei depois que, de facto, para aqueles que andamos pelos cinquenta anos, tendo nascido entre o estertor do Estado Novo e o dealbar da democracia, o sistema democrático adquiriu a forma cristalizada de uma hierarquia muito fechada de partidos, uma forma mantida por décadas e de cuja estabilidade temos dificuldade em afastar-nos. A democracia não é necessariamente assim. Não era assim que a vislumbravam as aspirações democráticas dos nossos pais. Também não será assim que certamente se afigurará, no futuro, aos nossos filhos. Mas a verdade é que, para a primeira geração que nasceu e cresceu em democracia, esta revelou-se uma espécie de entretenimento em que os poucos protagonistas em palco são jogadores cujas performances os comentadores televisivos e restante imprensa se ocupam a discutir e classificar; jogadores em algo semelhante a um campeonato futebolístico confuso em que, no mesmo campeonato, se disputam várias ligas e escalões.

Para aqueles que se aventuraram a gatinhar e dar os primeiros passos no momento em que o Estado português também os dava rumo ao socialismo, conforme o imperativo prescrito no nosso preâmbulo constitucional, a primeira liga do campeonato partidário foi reduzida a uma monótona final, disputada invariavelmente entre dois partidos cujas diferenças se reduziram, com o passar do tempo, à distinção entre nada e coisa nenhuma. Cada um deles visou desde sempre, a seu modo, um conhecido oxímoro: «socialismo em liberdade». A imagem de um campeonato assim disputado transformou as eleições legislativas portuguesas numa escolha fechada entre dois «candidatos a Primeiro-Ministro». Por isso, ao longo de décadas, com a imprescindível........

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