Redescobrir palavras, redescobrir afetos
Quantas palavras você já ouviu hoje? Quantas já pronunciou, quantas já leu ou escreveu? Eu, por ironia, ainda não sei com quantas palavras hei de dizer, logo adiante, o que tenho em mente, neste instante em que me ponho a escrever. Não sei, portanto, a quantas palavras vou submetê-lo, caro leitor, como preço por tomar ciência das minhas meditações, isto se é que vai lhe interessar ler até a última linha. Sei que não posso ultrapassar os limites do jornal. Não estamos mais na era do papel impresso, é bem verdade, em que os editores obrigavam os colunistas a cortar seus textos cruelmente – naquelas redações cheias de fumaça de cigarro, apagados em grandes cinzeiros de vidro verde... Contudo, há hoje em dia, na era digital e da internet na palma da mão, uma limitação muito maior! Que curioso fenômeno. O homem que poderia escrever, ler e dizer tudo vê as palavras a serem lidas justamente como um preço, pois custa à nossa atenção, erodida pelos algoritmos, acompanhar um parágrafo longo como este sem sentir verdadeiro desconforto.
“Seus artigos são muito bons, Samia, parabéns. Pena que são longos...” Tentarei ser breve, prometo, mas eu precisava começar aludindo ao fato de que, no comércio da vida comum, as palavras perderam o seu valor. Algumas delas, tão sentidas e tão significativas outrora, viraram pastiche de si mesmas. A que distância estamos, sei lá, de Shakespeare, que as amava tanto que, quando não encontrava uma que expressasse o seu pensamento, criava uma nova. Ah, isso faz lembrar o príncipe Hamlet: lendo o quê, meu príncipe? – Palavras, palavras, palavras... E no entanto é pela realidade a que apontam, e não por si mesmas – meros sons articulados – que as palavras valem. Julieta disse, do alto do balcão: “Uma rosa, se tivesse outro nome, conservaria o mesmo doce perfume...”. Julieta pura, Julieta terna... Terna, sem dúvida. Esta é com efeito uma das valiosas palavras que perderam seu sentido no caminho, e que clama por uma espécie de justiça: ternura.
Esse sentimento, tantas vezes reduzido a algo meloso ou piegas, é na verdade um dos mais complexos e fundamentais para a vida humana. A ternura é uma força discreta, mas decisiva; é uma linguagem que atravessa as idades, une o vigor à fragilidade, e nos ensina a tratar o outro não como objeto de posse, mas como mistério que se confia à nossa guarda. “Ternura” vem do latim tener, e quer dizer delicadeza, suavidade, brandura, inicialmente no sentido físico, quando se refere à carne e à pele, mas logo também no afetivo, quando os gestos e sentimentos são brandos e suaves. A evolução semântica é bonita: daquilo que é materialmente “tenro”, que se dobra facilmente e é sensível ao toque, passou-se ao sentimento humano que se dobra diante do outro – a atitude de afeto, cuidado e gentileza.
A ternura é uma força discreta, mas decisiva; ela nos ensina a tratar o outro não como objeto de posse, mas como mistério que se confia à nossa guarda
Existe, sim, uma ternura fácil: aquela que brota espontânea diante do que é novo, pequeno e vulnerável. Sentimo-la diante de uma criança, cujas confiança e inocência revelam a........





















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