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O último inimigo a ser vencido é a morte

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02.11.2025

Em uma passagem de seu magnífico O Século do Nada, Gustavo Corção se recorda de uma cena da Segunda Guerra Mundial. Diante de uma mercearia na Londres bombardeada pelos nazistas, o dono do estabelecimento escreveu com giz: Open as usual. Alguns dias depois, a mercearia foi atingida por uma bomba que praticamente dividiu ao meio a edificação. Então o merceeiro cunhou em giz esta pérola do bom humor e da resiliência britânicos: More open than usual. A tirada é tão boa que, a exemplo dos trocadilhos shakespearianos, fica difícil traduzi-la literalmente. O melhor que eu conseguiria é “Aberta como sempre”, na primeira frase, e “Mais aberta do que nunca”, na segunda.

Durante os bombardeios da Luftwaffe, os ingleses comuns deram várias mostras de coragem. Ficaram famosas, por exemplo, as imagens dos leitores consultando as prateleiras de uma livraria cujo teto havia caído, dos cafés abertos apesar do medo de novos ataques e do leiteiro que saía para vender seus produtos indiferente à destruição em volta. Essas imagens nos ensinam que sempre há na vida uma ordem que resiste às mais caóticas circunstâncias. Talvez isso seja o que Aristóteles chamava de substância, ou seja, a ordem interna pela qual alguma coisa se torna o que é; talvez seja aquilo que Viktor Frankl chamava de sentido da vida, algo que faz um prisioneiro........

© Gazeta do Povo