A guilhotina como metáfora
Instrumento de execução criado em 1791, supostamente com intenções humanitárias – por proporcionar uma morte rápida e indolor, em comparação com outros métodos da época – e igualitárias – já que condenados de todas as classes sociais eram executados da mesma maneira – a guilhotina rapidamente se transformou no símbolo do Terror, período da Revolução Francesa marcado pela perseguição e execução em massa de opositores.
Para os jacobinos, ela era a “vingadora do povo”, usada para eliminar inimigos da revolução. Sob a liderança de Robespierre, o Comitê de Salvação Pública e o Tribunal Revolucionário recorreram à guilhotina para consolidar o poder, eliminando qualquer um que se colocasse em seu caminho. A brutalidade era justificada como necessária para proteger a república de seus inimigos.
A radicalização da revolução inaugurou o uso sistemático da violência estatal em nome de um ideal coletivo abstrato, deixando um legado simbólico que vem sendo reciclado desde então. Aos olhos da esquerda radical, a guilhotina passou a representar a pureza revolucionária e a "limpeza" do corpo social. Mas ela também se tornou o emblema sinistro da substituição da justiça pelo moralismo ideológico, com total desprezo pela dignidade individual.
No século 19, movimentos revolucionários frequentemente evocaram a guilhotina como metáfora para a destruição das estruturas de poder opressivas do capitalismo. Marx via os jacobinos como precursores dos comunistas, e mais tarde Lênin comparou Robespierre a um “pré-bolchevique”, legitimando o uso do terror como ferramenta para consolidar o poder proletário.
Mesmo sem o uso literal da guilhotina, a Revolução Russa foi marcada pelo desprezo pela vida individual em nome da transformação do homem e da sociedade. Os expurgos de Stalin, o Holodomor, os Gulags, os julgamentos sumários e as execuções em massa foram o prolongamento e a extensão, em escala industrial, do terror jacobino.
A guilhotina segue sendo, até hoje, um emblema do radicalismo de esquerda e da violência política desmedida, como ilustra o recente episódio do........
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