Opinião | A epidemia das bets e a saúde mental
“Doutor, minha esposa descobriu. Eram R$ 400 mil que eu deveria ter depositado na conta da construtora. O apartamento dos meus filhos. Apostei tudo.”
Quando meu paciente disse isso no consultório, não estava falando de um episódio isolado. Era a quinta vez naquele mês. Cinco pessoas diferentes, cinco histórias semelhantes: a promessa de dinheiro fácil, a ilusão de controle, a espiral de perdas que culmina em desespero. Todas tinham algo em comum: apostas esportivas online, as chamadas bets.
O que começou como entretenimento legalizou-se como tragédia sanitária. Em menos de dois anos desde a regulamentação, assistimos a um experimento social em tempo real — e os resultados são alarmantes. Não porque faltassem avisos. Mas porque, como sociedade, decidimos ignorá-los. Os números contam parte da história. Segundo dados do Banco Central e da Confederação Nacional do Comércio, brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às plataformas de apostas em 2024 — valor equivalente ao orçamento anual do Ministério da Saúde, projetado em R$ 246 bilhões para 2025. Estima-se que 1,8 milhão de brasileiros tenha entrado em inadimplência por conta das bets apenas no último ano. O varejo brasileiro estima ter perdido R$ 103 bilhões em 2024 — dinheiro que deixou de circular em supermercados, farmácias e comércio local para alimentar algoritmos de cassinos digitais. Números........





















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