Opinião | O golpe e os historiadores do futuro
Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto
Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto
Ao ler o noticiário do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado, fica-se com a impressão de que ele teria sido abortado graças a alguns ministros do Supremo, que defenderam sozinhos a democracia. É como se fossem os únicos atores relevantes. Ademais, quase apagaram a distinção entre os coordenadores dessa tentativa e a turba que depredou a sede dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, como se fossem, por sua vez, eventos concatenados, obedecendo a uma mesma orientação, a última etapa de um processo previamente programado. Imaginem o que dirão os historiadores do futuro quando se debruçaram sobre esses fatos e avaliarem suas respectivas narrativas.
Se atentarmos para os fatos e a sua concatenação, tem-se uma outra visão. A narrativa predominante é a de que os protagonistas foram os ministros do Supremo, com destaque para o ministro Alexandre de Moraes, enquanto os militares caem sob a rubrica de golpistas, atingindo a imagem do Exército. Não se trata de reduzir o importante papel do ministro Alexandre de Moraes na defesa da democracia naquele momento de exceção. Soube manejar os instrumentos jurídicos........
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