O carvalho e a couve
José Sarney — ex-presidente da República, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras
Nós, brasileiros, temos o hábito de cultivar o pessimismo em relação ao nosso país. O nosso olhar é um pouco o de ver a árvore, e não a floresta, como no apólogo que Rui Barbosa invocou quando discutia uma lei de anistia: ele citou a diferença entre plantar couve e plantar carvalhos e concluiu: nós gostamos sempre de olhar a couve sem ver os carvalhos.
Quero fazer uma reflexão sobre a satisfação e a alegria de ser brasileiro, alegria de termos construído uma sociedade de convivência sem problemas de fronteira, que o Barão do Rio Branco resolveu no princípio do século; de religião, pois temos no Brasil liberdade de consciência e, sobretudo, convivência entre crenças e convicções; de raça, pois aprendemos a não ter preconceitos raciais e a conviver com alegria. De tal sorte que dizia Gilberto Amado ser a expressão carinhosa que usamos em relação a uma mulher de qualquer cor "ó, minha neguinha" uma referência a uma mulher linda e inteligente, por quem temos admiração, afeto, carinho e amor.
Agora, quando estamos comemorando 40 anos de democracia, é necessário deixar de ver somente a couve.
Estou escrevendo sobre esse assunto porque li que um membro da........
© Correio Braziliense
