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Nem toda morte choca. Algumas rendem aplausos

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22.09.2025

Cristiany Fonseca — cientista política, doutora em sociologia (UFSCAR) e professora do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT)

O que acontece com uma sociedade quando o luto precisa ser filtrado por convicções políticas? Quando a brutalidade não gera mais comoção, mas torcida? Quando o assassinato do "inimigo" é celebrado como um triunfo e a morte do "aliado" é usada como palanque? É nesse território que deixamos de debater ideias e começamos a perder a condição mais básica da vida em comum: a capacidade de reconhecer o humano no outro.

Foi isso que os assassinatos de Charlie Kirk, nos Estados Unidos, e de Marielle Franco, no Brasil, escancararam, não apenas como crimes bárbaros, mas como espelhos de uma cultura política que perdeu o eixo moral.

Charlie Kirk era ativista conservador e um dos fundadores da Turning Point USA. Foi morto a tiros durante um evento universitário. A resposta de setores progressistas? Silêncio, indiferença e até comemorações explícitas como a do neurocirurgião Ricardo Barbosa, que escreveu: "Um salve a este companheiro de mira impecável. Coluna cervical." A frase é real. Pública. E doentia.

Marielle Franco era vereadora, mulher negra, favelada e defensora de direitos humanos. Foi executada com quatro tiros na cabeça em pleno centro do Rio. A reação de parte da direita incluiu ofensas à sua memória, disseminação de teorias conspiratórias e tentativas de rebaixar sua trajetória. O deputado Nikolas Ferreira, por exemplo, disse: "Ela não é uma pessoa que era flor que se cheire. Não é porque morreu que virou santa."

Essas reações não são apenas episódios lamentáveis. Elas são sintomas. Sintomas de uma sociedade que passou a........

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