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Extremos que não se equivalem

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27.06.2025

JOSÉ HORTA MANZANO, empresário

Há uma tendência recorrente de colocar extrema-esquerda e extrema-direita no mesmo plano moral e histórico. A ideia de que uma seria o espelho da outra com sinais trocados não resiste a uma análise mais profunda. Embora o radicalismo seja a tônica de ambas, os fundamentos ideológicos, as motivações e os objetivos que as movem são substancialmente diferentes.

A extrema-direita tem obsessão pela origem, pelo sangue e pelo pertencimento nacional, assumindo a pátria o valor absoluto. Os que não se encaixam nesse modelo idealizado de cidadão — muitas vezes branco, cristão e "puro" — são considerados ameaça interna. Esse discurso não raro se manifesta na retórica do "resgate de valores tradicionais" ou na defesa de um nacionalismo agressivo e excludente. São os autodenominados "patriotas", guardiães de uma identidade nacional que não passa de invenção nostálgica de um tempo que não existiu.

Já a extrema-esquerda, apesar de também incorrer em excessos e, por vezes, de flertar com o autoritarismo, parte de uma premissa bem diferente. Seu ponto de partida costuma ser a tentativa — nem sempre bem-sucedida — de erradicar a miséria, promover justiça social e melhorar as condições de vida de todos, independentemente de raça, cor, religião ou origem. Se, por um lado, pode perder-se em dogmas ou práticas centralizadoras, por outro, tem como horizonte um projeto de inclusão e equidade. Essa diferença, por si só, já impede que as duas extremas sejam vistas como farinha do mesmo saco.

O ponto de contato entre ambas, sem dúvida, está no recurso à violência como ferramenta política. Quando a moderação é abandonada, quando o diálogo é substituído pela imposição, os extremos se encontram na radicalização........

© Correio Braziliense