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Das cartas

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13.09.2025

JOSÉ SARNEY, ex-presidente da República, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras

É nostálgico quando os velhos pensam no tempo das cartas, a mais antiga forma de registro da comunicação do homem na face da Terra. Há referências de que as cartas existem há 3.500 anos, escritas em argila, como na Mesopotâmia; em pedra ou ossos, como mostram registros históricos das bibliotecas da China; em papiros, registrados no Egito e na Grécia; ou mais tarde nos couros de carneiro ou animais semelhantes. Assim os homens começaram a perpetuar pela palavra escrita o milagre da linguagem, atributo que somente nós, humanos, temos.

Lembro-me das cartas que escrevi à minha mãe durante a Segunda Guerra, em São Luís, que era uma Base Aérea Americana — todas foram perdidas, mas nem por isso deixaram de povoar a minha memória até hoje. Em uma delas, descrevi o medo que me atacava nas noites em que dormia ouvindo os barulhos das almas que habitavam o sobradão do internato em que morava, sob o comando de dona Rosilda Penha, que me encheu de amor e carinho: eu, aos 12 anos, pensava na Manguda que aparecia no cais do porto e tinha o grito que espantava os meninos ao tomar banho na maré baixa.

Lembro de ter contado a ela sobre o Baependi, primeiro navio brasileiro a ser torpedeado, que despertou o patriotismo e a fúria dos estudantes que foram (que coisa vergonhosa!) apedrejar a casa de duas famílias alemãs que moravam em São Luís. E relatei outro fato cruel que os........

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