A família virtual e a educação terceirizada
Raul Jungmann — ex-ministro da Reforma Agrária, da Defesa e da Segurança Pública. Diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
Mal refeitos do impacto da série Adolescência — já na casa dos 100 milhões de visualizações em 71 países —, no maior fenômeno de audiência da plataforma de streaming, o país toma conhecimento de uma nova tragédia escrita e desenvolvida no mundo virtual.
Trata-se da morte da menina Sarah Raíssa de Castro, de 8 anos, após inalar desodorante em um desses enredos que viraram rotina na internet, em que crianças e adolescentes perdem a vida em apostas bizarras — ou mesmo tiram a vida de outros, como registra a própria série, da forma mais banal possível.
Talvez esteja aí o ponto central desse processo da era tecnológica: a substituição gradativa da convivência presencial pela comunicação virtual, que nos faz todos indivíduos apartados da sociedade como a conhecemos e vivemos por séculos. O senso de coletividade, os limites racionais, a incapacidade crescente de distinguir o real do virtual foram pouco a pouco subtraídos das novas gerações.
O plural aqui empregado é intencional para alcançar não apenas as crianças e os adolescentes de agora, mas para incluir os pais, em grande parte também formados na era pós-internet, que demonstram despreparo para lidar com os filhos nessa nova era.
Vivemos a era da família virtual, em que um mesmo núcleo é capaz de morar sob um mesmo teto sem que seus integrantes passem dias sem falar ou........
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