O complexo dos muros
JOSÉ SARNEY — Ex-presidente da República, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras
Estamos num tempo de guerras sem tiros, sem lenço e sem documento. Refiro-me à guerra econômica, de taxas protecionistas, alfandegárias, de um lado para o outro, entre os Estados Unidos e a China, o Canadá, o México e a Colômbia. E nós, no Brasil, aqui, encolhidos, esperando que sobrem para nós algumas taxas em nossos sapatos, aço, sucos e outras coisas mais. Como o Brasil tem com os Estados Unidos uma troca de exportação-importação equilibrada, não dá para entender nada daquela frase do presidente Trump de que "eles precisam mais de nós do que nós, deles."
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Recordo com saudade as iniciativas políticas para a América Latina do presidente Roosevelt, a "Política de boa vizinhança" (Good Neighbor Policy), e a do presidente Kennedy, "Aliança para o Progresso" (Alliance for Progress), tão queridos de todos nós.
Não é que no Brasil também iniciamos uma guerra bem brasileira, a "guerra dos bonés", para mostrar a preferência pelos dois lados políticos, direita e esquerda?! É bem verdade que a origem dessas expressões está, na realidade, na divisão, na Assembleia Nacional francesa, entre os a favor — esquerda — e os contra — direita — à Constituinte de 1789.
Nessa guerra de tarifas, creio que o presidente Trump não está sendo sincero ao optar pela guerra comercial. Na verdade, desconfio de que o que ele tem é o "vírus do muro", o antigo vírus da civilização humana de construção de muros para proteção das cidades. Os portugueses levaram um susto danado quando chegaram a Benim, em 1485: ficaram estarrecidos com a existência de uma muralha de quase 20 metros de altura. Estudos mostraram que possuía 16 mil km de comprimento de cerca,........
© Correio Braziliense
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