menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Vamos falar de mortes no trânsito?

3 1
03.02.2025

Jaime Pinsky — Historiador, escritor, professor titular concursado da Unicamp, doutor e livre-docente da USP

A dramaticidade de um acidente aéreo, particularmente quando ocorre com um grande avião comercial, provoca manchetes nos jornais e ocupa preciosos minutos com imagens dos destroços e entrevistas pertinentes, ou menos pertinentes na TV. Especialistas são convocados para explicar o acontecido, teorias são levantadas (e abandonadas), helicópteros se arriscam em voos rasantes para filmar o que restou daquele que já foi um "gigante dos ares", hoje reduzido a metais retorcidos, manchas de sangue e pedaços indecifráveis de corpos humanos. Narrativas são extraídas de gente que perdeu o voo e não perdeu a vida ("puxa, foi um milagre de Deus", reconhecem, agradecidos), declarações chorosas são arrancadas de parentes das vítimas, o que é compreensível, pois a morte de pessoas em um acidente é sempre uma tragédia. Um jornalista me explicava que a cobertura da mídia se justificava, uma vez que um grande avião transcontinental pode carregar, dependendo de sua configuração, cerca de 500 pessoas. "Tragédia incomparável", segundo ele.

Incomparável? Que tal dar uma olhada nos dados relativos aos acidentes "de trânsito", algo banal, cotidiano. Cotidiano até demais. Muita gente ainda morre como decorrência da colisão entre uma máquina rodante, pesando mais de uma tonelada, e um ser humano, com menos de um décimo do peso do automóvel. Mas não se trata apenas do peso:........

© Correio Braziliense