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Nunca mais um país ajoelhado diante de quartéis

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Há dias que reorganizam a memória coletiva — pelas luzes que acendem, pelos fantasmas que expulsam, pelas fronteiras que redesenham na consciência nacional.

O 25 de novembro de 2025 entra nesse registro raro. Não por revanche, não por espetáculo, não por catarse. Mas por algo mais simples, mais duradouro e mais difícil: pelo restabelecimento do óbvio. Pelo triunfo do que deveria ter sido inegociável desde sempre: a democracia como linha de chegada e ponto de partida, como pacto civilizatório e como limite impermeável à sanha destrutiva de quem tentou capturá-la.

Os golpistas, enfim, chegaram ao fim do caminho.

O Brasil, finalmente, chegou ao começo de outro.

Os meios de comunicação anunciaram, finalmente, aquilo que a História vinha ensaiando, mas não tinha coragem de afirmar em voz alta: Jair Bolsonaro começou a cumprir pena de 27 anos e três meses por golpe de Estado.

A frase seria improvável, se não fosse verdadeira. Seria ficção, se não fosse documento. Seria exagero, se não fosse sentença transitada em julgado. Game over. Fim do jogo.

A notícia correu o mundo e veio acompanhada de outra, inédita na República brasileira: militares de alta patente presos por atentado à democracia. Não eram personagens menores. Eram almirantes, generais, um ex-chefe da Defesa, um ex-chefe do GSI, o ex-comandante da Marinha, um ex-ministro da Justiça. O coração do Estado, usado como arma contra o próprio Estado.

Agora, desarmado.

Alexandre de Moraes — alvo preferencial de quem confundiu bravata com coragem — assinou o despacho que a História cobrava. E o fez com 29 páginas de fundamentos, provas, citações jurisprudenciais, recapitulação processual e uma frase que encerra uma era: “Inexistem recursos cabíveis.”

Para um país traumatizado por golpes reais, tentativas veladas e ensaios frustrados de quartel, essa sentença é quase literária: o ponto final de um capítulo muito mal escrito por mentes e mãos irresponsáveis.

Mas não havia metáfora nessa tarde de 25 de novembro. Havia documentos. Havia certidões. Havia mandados. Havia escoltas. Havia algemas invisíveis de legalidade que finalmente se fecharam.

Lamento que meu pai — o bom agrônomo, historiador e advogado Adonias Bezerra de Araújo — não tenha vivido até esta data para testemunhar o desfecho vergonhoso que nossa história impôs a si mesma. Nasci no Rio Grande do Norte e passei os primeiros seis anos de vida nos cafundós do Judas, no interior paranaense. Minha família não fugiu do calor ou do cansaço; fugiu da ditadura militar de 1964, que empurrou vidas inteiras para longe das suas raízes.

Fui uma planta agreste transplantada para um terreno de geadas........

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