Inventário das sombras no plenário da Câmara reflete fuga da compostura
Compostura não é mero ornamento social, mas a essência da busca pela excelência humana em meio ao caos das interações cotidianas. Ela se manifesta no respeito inabalável às opiniões contrárias, na valorização da diversidade de raças, etnias, gênero, culturas, idiomas, classes sociais e religiões, transformando diferenças em pontes ao invés de abismos. Compostura é a arte refinada de conduzir-se com urbanidade, elevando a civilidade a um patamar onde o diálogo prevalece sobre o confronto, e o indivíduo se torna guardião da harmonia coletiva.
É espantosa a capacidade de nossos deputados federais em desperdiçar oportunidades de dignidade, frequentemente optando por exibições que envergonham a nação inteira, enquanto senadores, embora menos propensos, ocasionalmente derrapam de forma grotesca nesse quesito vital.
A ausência de compostura no âmbito privado já danifica as relações sociais, gerando prejuízos irreparáveis à convivência harmônica; no espaço público, porém, torna-se inadmissível, inaceitável, servindo como termômetro preciso da qualidade humana e ética de representantes eleitos em pleitos democráticos regulares. A compostura, assim como a cortesia, “é o príncipe de todas as virtudes”, capaz de sustentar a democracia em tempos de extrema turbulências.
Retrocedendo à história recente e remota do Parlamento brasileiro, uma pesquisa em fontes confiáveis revela uma cronologia alarmante de episódios onde deputados e senadores, especialmente da extrema direita, violaram a liturgia de suas funções elevadas, beirando a indignidade e merecendo o repúdio unânime da sociedade.
Em 1929, no Rio de Janeiro, o deputado Luís Simões Lopes (RS) reagiu a uma bengalada do colega Sousa Filho com tiros de revólver, resultando na morte deste último no plenário, em um ato de violência impulsiva que chocou o país e destacou a fragilidade da civilidade parlamentar inicial.
Em 1960, Tenório Cavalcanti (RJ), conhecido por sua postura truculenta, sacou uma submetralhadora contra Antônio Carlos Magalhães (BA) durante um debate acalorado na Câmara, gritando ameaças de morte antes de ser contido por colegas, configurando uma tentativa de intimidação que beirava o crime de ameaça e expunha a falta de decoro em discussões políticas.
Já em 1963, no Senado, Arnon de Mello (AL) disparou contra Silvestre Péricles (AL) em meio a uma discussão inflamada, acertando fatalmente José Kairala (AC), um homicídio no plenário que ilustrou a ausência total de controle emocional e respeito à vida em ambientes legislativos.
Avançando para 2003, o então deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) confrontou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) no Salão Verde da Câmara, esbravejando “Jamais estupraria você porque você é muito........
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