menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Empatia sob medida num mundo em chamas revela quem escolhemos salvar

10 1
previous day

Somos a espécie que chora. Que se comove. Que interrompe o curso de seu dia por uma imagem, um símbolo, um rosto. 

Mas também somos a espécie da empatia seletiva. Da consciência cuidadosamente selecionada. Do cuidado condicionado por filtros invisíveis — culturais, raciais, econômicos.

E isso, lamentavelmente, não é um acidente da nossa civilização. É um padrão. Uma síndrome moral. Um algoritmo silencioso que determina por quem vale a pena sofrer — e por quem se pode virar o rosto. Está nos matando. Não apenas enquanto corpos individuais, mas como coletividade humana. Está minando a própria ideia de humanidade compartilhada.

Por que uma catedral em chamas no coração de Paris acende tanto pranto global, enquanto cidades inteiras reduzidas a escombros no Sudão ou em Gaza mal merecem uma nota de rodapé? Por que a morte de um urso polar na Noruega desperta mais comoção do que milhares de refugiados do clima, expulsos pelas águas e esquecidos sob o peso das estatísticas?

Não se trata da quantidade de dor. Mas da proximidade identitária com a vítima. Se não se parecem conosco, se não falam como nós, não rezam como nós — ou, pior ainda, se não agregam valor ao mercado que nos sustenta — tornam-se........

© Brasil 247