Lula vs. Trump: negociações, tensões e o novo jogo geopolítico
Em 2025 a relação entre Brasil e EUA atravessa um momento de choque e oportunidade: medidas coercitivas da administração Trump (tarifas de 50% e sanções) desafiam a soberania brasileira; ao mesmo tempo, encontros e “química” à margem da ONU abriram uma janela para negociações. Este texto analisa, com fontes primárias e prognósticos estratégicos, o que está em jogo — diplomacia, comércio, soft power e os riscos de um confronto com implicações globais para o Sul Global.
Introdução — Dois Mundos, Dois Líderes
O palco do século XXI é habitado por antagonistas que não se confundem. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que ascendeu às tribunas globais como herdeiro do Iluminismo, portador da razão, da ciência e da soberania popular como fundamentos de um projeto civilizatório. Do outro, Donald Trump, empresário tornado presidente, reencarnação do obscurantismo, da mentira como método e da violência simbólica como gramática política, expressão viva do fascismo que se disfarça em nacionalismo.
Entre ambos não há apenas divergência de programas, mas um abismo de cosmovisões. Lula é a voz de um Sul Global que insiste em existir, que recusa a subordinação colonial e clama por um multilateralismo ancorado na dignidade humana e na justiça social. Trump é a síntese de uma potência que, em declínio relativo, transforma sua incapacidade em agressividade, convertendo tarifas, sanções e desinformação em armas de guerra híbrida.
O Brasil e os Estados Unidos, sob esses dois líderes, encarnam não um diálogo ordinário de nações, mas um choque de paradigmas. A cada gesto, a cada discurso, a cada negociação, se encena uma disputa maior: a sobrevivência da razão contra o triunfo do irracional, a soberania dos povos contra a dominação imperial, a esperança contra o medo.
É nesse terreno movediço que surge a pergunta que guiará este artigo: será possível o diálogo entre dois mundos tão inconciliáveis? Poderá a diplomacia criar pontes entre o iluminismo e o obscurantismo, ou estaremos condenados a assistir à escalada de uma guerra civilizacional travada no comércio, nas redes, nos tribunais e nos mares?
A Nova Guerra Fria Assimétrica
O mundo de 2025 não é mais o da Guerra Fria clássica, mas seu eco ressoa em forma deformada, assimétrica, enraizada na lógica da guerra híbrida. Não se trata de blocos ideológicos cristalizados entre capitalismo e socialismo, mas da disputa entre soberania e vassalagem, entre um Sul Global que tenta afirmar sua autonomia e um império que recorre à coerção para conter seu declínio.
Foi nesse terreno que se consolidou a atual tensão Brasil–EUA. Desde a recusa brasileira à ALCA em 2005, o país tornou-se alvo de operações psicológicas, campanhas de desinformação e lawfare, instrumentos de uma guerra cultural que se alonga há duas décadas. Em 2025, sob Trump, a ofensiva alcançou novo patamar: tarifas unilaterais de cinquenta por cento, sanções pessoais contra familiares de ministros do Supremo Tribunal Federal, retórica que ataca diretamente a soberania nacional. O gesto não é isolado: é método de governo, coerção travestida de política externa.
Do outro lado, Lula reposiciona o Brasil como laboratório de resistência. Apoiado em sua biografia de sobrevivente e estadista, ele articula os BRICS ampliados, fortalece vínculos com China, Rússia, Índia e África do Sul, e leva para o centro do debate global a pauta da justiça climática, da redistribuição do poder e da democratização da governança mundial. A assimetria é evidente: os EUA brandem tarifas, Lula ergue discursos; os EUA sancionam, Lula coaliza; os EUA desestabilizam, Lula busca mediar.
Essa nova Guerra Fria não é apenas geopolítica, mas cognitiva. A arena não se limita aos mares ou às fronteiras: ela se desloca para a economia digital, para os fluxos de dados, para os algoritmos que mediam a opinião pública. O Brasil se tornou campo de prova, alvo e laboratório da guerra híbrida, enquanto os EUA, sob Trump, exploram sanções e plataformas digitais como armas. O Atlântico Sul, os fóruns multilaterais e até as linhas de código tornam-se trincheiras de uma disputa assimétrica que não tem recuo.
Neste tabuleiro, Lula representa a contra-hegemonia, o esforço de reorganizar forças dispersas em torno de uma racionalidade solidária. Trump encarna o poder coercitivo de um império que, incapaz de propor futuro, se ancora no passado de privilégios e violência. A nova Guerra Fria é travada em múltiplos planos, mas sua essência é a mesma: o confronto entre razão e obscurantismo, entre emancipação e submissão.
A Batalha das Narrativas — ONU 2025 como Palco
A Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2025, tornou-se mais que um ritual diplomático: converteu-se em arena simbólica de uma disputa civilizacional. Na mesma tribuna onde se ergueram vozes que moldaram a história, dois líderes antagônicos expuseram ao mundo suas visões irreconciliáveis de futuro: Lula e Trump.
O discurso de Lula foi a continuidade de uma tradição iluminista. Palavras moldadas pela razão e pela memória histórica, denunciando a escalada de sanções unilaterais, reafirmando o princípio da soberania dos povos e clamando por um multilateralismo efetivo. Ao apresentar o Brasil como ator central de um fundo global para preservação das florestas, Lula não falava apenas de árvores e carbono, mas de uma........
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