Continuidades estruturais
Publicado originalmente em A Terra é Redonda
A história parece se repetir, não como farsa, mas como tragédia: o rentismo e o comércio externo continuam a estrangular o desenvolvimento, transformando o Estado em mero garantidor de privilégios. O futuro permanece cancelado enquanto não rompermos com essa lógica secular.
Mesmo com mudanças institucionais, tecnológicas e políticas inegáveis, as passagens do século XIX para o XX e do século XX para o XXI apontam tanto o bloqueio ao desenvolvimento nacional estruturante quanto a prevalência da desigualdade assentada na riqueza concentrada. Isso parece ser o caso de dois períodos históricos distintos, porém marcados por experiências democráticas dominantes com fortes traços liberais na República Velha (1889-1930) e neoliberais na Nova República (após 1985).
De certa forma, os dois intervalos de tempo convergem por serem expressão transitória de sociedades antecedentes em ruínas em plena mudança do capitalismo global. Enquanto a República Velha sucedeu à monarquia escravista em colapso durante a longa depressão do capitalismo inglês (1873-1896), a Nova República se consolidou na crise da sociedade urbana e industrial, coincidente com o declínio da hegemonia capitalista dos Estados Unidos desde o final do século XX.
Se considerarmos o que havia antes da República Velha (monarquia escravista) e o que a sucedeu a partir da Revolução de 1930, identifica-se, entre os anos de 1889 e 1930, a temporalidade transitória entre dois regimes políticos distintos, sucedidos pelo declínio e ascensão oligárquicos. Isso porque a ausência política hegemônica entre as forças do velho e as do novo concederia uma situação temporal em disputas sobre um futuro que permaneceria indefinido.
Nesse mesmo sentido, poder-se-ia identificar a Nova República enquanto um regime político transitório? É evidente que o regime político-democrático instalado a partir de 1985 se caracterizou, ao longo das últimas quatro décadas, pela escassez de maiorias estáveis das forças do novo, pois foram constantemente questionadas, quando não interrompidas, pela força do velho, impondo uma espécie de cancelamento do futuro.
O que se sabe até o momento é que os dois períodos históricos distintos parecem cada vez mais guardar similaridades de continuidades estruturais.........
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