Templos, preces e quermesses: uma vela acesa para a bênção do 'eu'
Quando criança, tinha medo do interior das igrejas. O teto alto demais, o forte cheiro da cera de vela e os olhos bem abertos dos santos a olhar por debaixo de sua pele intimidavam. Também eram frios o ambiente e o silêncio. Já o exterior lhe intrigava. Como um castelo daqueles poderia brotar do meio de uma praça cheia de lixo, com grama falhada que nem dava mais para pisar enquanto brincava de caçar grilos? Não era grama, na verdade. Era mato.
Ao passo que ele crescia, a igreja permanecia igual. O tempo dela era outro. O do menino se dividia em vários para atender pai, mãe, despertador, escola, rua, a terra e o céu. Antes de dormir, rezava o Pai Nosso sem entender metade do que dizia. Ao término da prece, iniciava a conversa. Contava seu dia, lembrava dos medos e sempre deixava de detalhar as vergonhas ainda incompreensíveis ao substituí-las por uma simples frase ecoada no estrelado teto dos seus pensamentos: "Você conhece a verdade em meu coração, então não preciso me explicar". Outra temperatura emanava do seu templo interno. Um calor de amornar. Apenas a única vela acesa e nenhum olhar a vasculhar os cantos de si que ninguém via. Era assim, com um templo dentro de si, que se sentia, sem medo, o menino.
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
Carregando...
A religião entrou em sua vida como o nome de batismo, sem que tivesse escolha.........
© UOL
visit website