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Intuição ou trauma? Como diferenciar essas duas vozes no amor

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02.07.2025

Escrita por Carol Tilkian, psicanalista, pesquisadora de relacionamentos e palestrante. Fundadora do podcast e do canal Amores Possíveis e professora da Casa do Saber

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Todo aquele que já sentiu sua intuição falando mais alto no amor, apontando que, ainda que tudo parecesse bem, havia algo errado, conhece essa certeza que não passa pela lógica. Uma voz interna sussurra: "algo aqui vai dar errado". Sabemos reconhecer abandonos iminentes, tragédias anunciadas, lobos em pele de cordeiro… E nos culpamos todas as vezes em que ignoramos essa voz, ousamos ser românticos, entregamos nossos corações aos lobos e, mais uma vez, somos devorados. No fundo sabíamos que era exatamente aquilo que ia acontecer.

Este é aquele momento em que juntamos os cacos da nossa carcaça emocional tentando negar a fragilidade do fim com a força da confirmação da nossa intuição. Juramos para nós mesmos que nunca mais silenciaremos o coração, justamente a única voz na qual deveríamos confiar: a nossa. E a intuição é tentadora porque vai além da lógica —em meio aos escombros do amor moderno ela se oferece como uma espécie de pilar energético, uma arquitetura subjetiva que resiste quando o outro e o mundo falham em nos oferecer abrigo.

Sem desmerecer a espiritualidade, a filosofia e a sabedoria que habitam esse campo não racional, quero te provocar a pensar que essa fagulha que te alertou que "algo ia dar errado" nem sempre está te conduzindo a um caminho de amor pleno. Esse território é também o campo do inconsciente, onde habitam os desejos recalcados, os medos primitivos e os pactos silenciosos com a dor. Por isso prefiro não chamar essa voz de intuição e sim de narrativas fatalistas: tramas que têm a função perversa de te confirmar que a segurança no amor é impossível.

Quando passamos a justificar nossas teorias não apenas com argumentos racionais, mas também com a intuição, ela já não é mais bússola, é armadura.

Dizemos que queremos amar, mas o que buscamos, muitas vezes, são certezas. E, pior, certezas que reforcem a ideia de que toda entrega será, cedo ou tarde, punida. Não sabemos por que o outro nos abandona, mas intuímos —e, olha só, acertamos— que ele nos abandonará. Mas será que acertamos ou........

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