Martelos, pregos e o custo-benefício da Foz do Amazonas
Administrador de Empresas formado pela FGV. Foi executivo do setor financeiro por 40 anos
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Aprendi na faculdade que não há, em ciências sociais, observação da realidade completamente isenta. Como ressaltou o antropólogo Clifford Geertz —difundindo pensamento original de Max Weber—, "o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu". Feita essa ressalva, procurarei analisar com a objetividade de que for capaz a questão da exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas.
Começo pela nomenclatura. Para evitar a carga emocional-ambiental associada à palavra "Amazonas", defensores da exploração de petróleo passaram a referir-se à área como "margem equatorial". Esses, no entanto, não são termos equivalentes: a margem equatorial se estende do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte, abrangendo quatro bacias petrolíferas, sendo uma delas a bacia da Foz do Amazonas, mais próxima à costa do Amapá, que abriga o bloco FZA-M-59, cuja exploração está sob análise do Ibama e no centro da polêmica.
Os argumentos contrários à exploração são de duas naturezas: ambientais e de imagem.
No aspecto ambiental, há dois riscos principais inter-relacionados. Primeiro, a área abriga ecossistemas sensíveis, como o recém-descoberto "grande sistema de recifes da Amazônia", além de espécies ameaçadas, como o peixe-boi-marinho e as tartarugas, cujo habitat pode ser comprometido pela perfuração e o tráfego de embarcações.
Segundo, as fortes correntes marítimas e águas turvas dificultam a contenção de vazamentos, tornando um eventual acidente devastador para a fauna e para comunidades pesqueiras.
Além dos impactos ecológicos diretos, há um dano menos tangível, mas crucial: a imagem do Brasil no cenário internacional. Nosso potencial no ciclo econômico de baixo carbono apoia-se em diferenciais como o sequestro de carbono via preservação e restauração florestal, a expansão de biocombustíveis e o desenvolvimento de tecnologias verdes, baseadas principalmente na disponibilidade de energias "limpas", como a solar e a eólica. Mas essas vantagens só se concretizam se houver mercados, que, por sua vez, exigem regras e certificações........
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