Vivo relacionamentos monogâmicos com carros, até a morte do motor
O laudo da concessionária nada mais era do que uma folha de papel cheia de quadradinhos ticados. Em tese, a vistoria final havia sido rigorosa, listando com detalhes o estado de todos os itens do veículo.
"E o meu estado?", pensei. Coração aos solavancos. Em que entrelinha daquele documento constavam os acessórios que não vieram de fábrica? A mossa que martelinho de ouro algum soube consertar, após a trombada de um ônibus que girou na pista estilo "Velozes e Furiosos" e me abalroou suave, parada no sinal, como se fosse um carrinho de rolimã.
À prova de aspirador, os pelos de bichos levados para a veterinária e resgatados da rua. O porta-luvas incapaz de fechar, dado o seu histórico de lenços de papel e CDs de música triste. E ao volante, a indelével mancha ocre Gata Garota nº 1, fruto de incontáveis maquiagens no engarrafamento.
Nada disso foi periciado. Nem poderia. Automóvel, para mim, não é........
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